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Olhos para que te quero ver


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Wilhelm Reich foi um médico e psicanalista austríaco, discípulo de Freud, que falou sobre a couraça muscular. A couraça muscular retém energia estagnada em partes do corpo, influenciando o funcionamento do indivíduo.


O primeiro segmento mapeado por Reich é o segmento ocular, e é sobre isso o conteúdo deste texto. Os olhos são conhecidos como o espelho da alma. A boca pode mentir, um sorriso pode ser fingido, mas o olhar pode revelar tristeza, ausência e desconexão.


É através dos olhos que nos sentimos ancorados ao buscar, e encontrar, pela primeira vez, o olhar da mãe ou do cuidador que cumpre essa função. Essa primeira conexão é fundamental. Mas, se ao buscarmos esse olhar não o encontramos, ou nos deparamos com um olhar frio e distante, algo interno é abalado pela referência não encontrada.


Com o tempo, passamos a buscar um segundo olhar: sobre nós mesmos. Se antes a busca era externa, agora é interna. Começo então a me enxergar, a entender que existe o outro e o eu. Isso não me separa do outro nem da busca por seu afeto, mas mostra que há alguém distinto de mim, e eu dependo desse alguém.


À medida que ganho independência, meu olhar se amplia. Agora existe o eu e os outros. E então vejo a mim mesmo, e os outros me veem. Para olhares pequenos, isso pode parecer assustador: Sou visto, e se sou visto, posso me sentir exposto, vulnerável. Talvez eu perceba que não consigo sustentar esses novos olhares (nem mesmo o meu próprio).


E ao integrar o olhar sobre mim e sobre os tantos outros, posso sentir que é demais para mim e então me recolho. Afasto-me da exposição excessiva e da possibilidade de ser julgado, seja no real ou no imaginário.


Às vezes, escolho criar meu próprio mundo e interagir com os outros a partir do meu olhar, negando ou rejeitando o que me provoca angústia, interpretando a realidade a minha maneira.


Mas quando abro os olhos e enxergo, descubro que nem tudo é bom como eu pensava. Que alguns dias são nublados e, neles, talvez eu esteja só. Mesmo assim, permaneço de olhos bem abertos para ver o que for preciso. E assim sigo a vida. Disponível.


A couraça do segmento ocular é a primeira a ser trabalhada na vegetoterapia clássica, dada sua importância. Para compreender e mudar qualquer situação emocional que me aflija, é preciso primeiro reconhecê-la, enxergar as variáveis, entender as possibilidades e só então agir com clareza. Para que os olhos vejam a realidade como ela é (ou o mais próximo disso).


O que quero dizer é que é preciso coragem para ver além de nós mesmos, das nossas dores e interesses. Abrir o olhar é como limpar os vidros e perceber que não eram os lençóis da vizinha que estavam sujos.


Abrir o olhar para ver a si mesmo, reconhecendo tudo e aceitando que não temos controle. É enxergar as dores, as faltas, e se abrir para encontrar as respostas de afeto que faltaram. É ver que, no fim, as coisas são exatamente como deveriam ser.


Por mais difícil e desafiador que pareça, que você tenha olhos para ver.


Eu me vejo, e espero que nossos olhares possam se cruzar no silêncio onde tudo cabe. Inclusive o amor.

 

 
 
 

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