Há uma frase famosa atribuída à cantora americana Nina Simone que diz: "Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor não estiver mais sendo servido."
Mas será que é tão simples assim? Ou, mais importante, será que é fácil reconhecer o momento certo de deixar ir?
Para algumas pessoas, talvez seja. Mas acredito que, para a maioria, não seja.
Este texto é para aqueles que ficam. Para aqueles que, mesmo quando o coração já sabe, negam e se recusam a aceitar o fim.
Por que, às vezes, é tão difícil perceber que nossa presença já não é mais desejada da forma que foi um dia? Uma possível resposta é que, em algum momento, aprendemos que o afeto pode ser ambivalente.
Os sentimentos ambivalentes se desenvolvem na infância, conforme nossas necessidades emocionais são atendidas ou frustradas. Essa confusão, originada pela ausência de interações emocionais seguras, abre espaço para a vulnerabilidade e insegurança.
Numa relação ambivalente, nos vemos presos, tentando interpretar sinais confusos, mesclando nossas próprias emoções com a leitura dos gestos e palavras que recebemos.
Como ir embora se a mensagem não é clara? Como distinguir quando a nossa presença que serve apenas para alimentar a vaidade do outro, vem disfarçada de atenção? Às vezes, parece mais fácil — ou mais seguro — ficar e se agarrar ao afeto imaginário que criamos dentro de nós.
Abrir mão e deixar algo para trás é como perder um alicerce. E quando se trata de relacionamentos afetivos, pode ser ainda mais doloroso. É como reviver uma emoção antiga: o momento da separação, da rejeição. Algo que, provavelmente, experimentamos lá no passado, quando sentimos, pela primeira vez, que aqueles que deveriam cuidar de nós talvez não estivessem disponíveis o tempo todo.
Esse é um tema sensível, e, sinceramente, não me sinto apta a discorrer sobre ele de maneira merecida. Minha intenção, no entanto, é provocar uma reflexão que considero justa..
Como mulher e profissional que atende outras mulheres, vejo o quanto é delicado lidar com nossas carências. O quanto pode ser sofrido buscar respostas que talvez nunca encontremos.
É difícil e doloroso encarar o abandono vivido e perceber que, muitas vezes, estamos repetindo um padrão. Não de forma consciente, é claro, mas, ainda assim, uma repetição.
O medo da solidão muitas vezes nos empurra para relacionamentos prematuros e inadequados. Por isso, se neste momento, se você está aberto a viver trocas de afeto, eu te saúdo.
Permitir-se envolver emocionalmente é, antes de tudo, um ato de coragem.
E, para você que está com a cabecinha confusa e o coração apertado, receba o meu abraço.
Vai ficar tudo bem. Você chegou até este texto por uma razão. Reconhecer nossos padrões pode ser dolorido e libertador ao mesmo tempo.
Levantar-se da mesa não é um fracasso, mas sim um gesto de amor-próprio. É o primeiro passo em direção à liberdade emocional e ao reencontro com quem somos de verdade.
Eu te vejo.
Até a próxima!
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