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Rejeição




Quero dividir com você uma reflexão sobre a rejeição — essa dor silenciosa que tantos de nós já enfrentamos.


Gostaria de começar dizendo que sentir-se rejeitado é uma experiência que nos leva a um estado emocional regredido. Ela nos faz revisitar momentos da infância, quando começamos a perceber que não éramos o centro do universo para os nossos cuidadores.


À medida que vamos crescendo, podemos reencontrar essa sensação: nas brincadeiras da escola, quando se formavam os times e não éramos escolhidos; na primeira paixão não correspondida; nos afetos da vida adulta; até em situações práticas, como a negativa em uma vaga de emprego. São várias as circunstâncias que podem trazer à tona o sentimento de rejeição.


A rejeição também evoca outro sentimento: a vergonha. É comum tentarmos manter a rejeição em segredo (eu não consigo, por isso meus amigos próximos sabem dos tocos que já levei).


Às vezes, ouvimos: “Eu não estou te rejeitando.” Mas ainda assim, você se sente rejeitado. Isso acontece porque é possível, sim, rejeitar partes de alguém (mas vai explicar qual parte, né?).


Nos ferimos também pela perda da imagem que acreditávamos que o outro tinha de nós.


O sentimento de rejeição é quase inevitável nas relações amorosas contemporâneas. Em Amores Líquidos, Zygmunt Bauman destaca que o medo da rejeição e do sofrimento leva muitas pessoas a evitarem vínculos profundos, preferindo relações superficiais, que exigem menos investimento emocional. Além disso, ele aponta como a busca por segurança emocional entra em conflito com o desejo de liberdade individual. As pessoas anseiam por relacionamentos estáveis, mas temem o comprometimento que esses vínculos exigem.


Destaco também os discursos cada vez mais frequentes que tentam apagar ou desvalorizar o sentimento de rejeição, como: “Eu me basto”, “Ame a si mesmo”, “Se faltar amor do outro, preencha-se de você mesmo”. Sim, viver a solitude e estar bem consigo mesmo é essencial. Mas também somos, por natureza, seres afetivos. Precisamos uns dos outros.


E aprendi com a terapia que tudo é sobre relacionamentos, sobre pessoas (que minha terapeuta não leia esse texto... vai que eu entendi tudo errado e ela me rejeita!). Não podemos cair na armadilha de acreditar que não precisamos de ninguém.


Às vezes, a rejeição é um medo disfarçado. Um medo de sofrer. Um refúgio seguro. Uma indiferença aprendida como defesa.


As defesas, os medos, a insegurança de demonstrar interesse sem parecer vulnerável… tudo isso pode aparecer, muitas vezes, dos dois lados.


É preciso consciência, presença, e a capacidade de olhar para além do próprio medo. É possível perceber que o outro também pode estar se protegendo. 


Ver claramente a minha insegurança em arriscar e perceber o outro fazendo o mesmo foi um passo enorme — e foi muito verdadeiro quando escrevi essa frase.


Relacionar-se, nesse contexto, vira quase uma dança: um passo à frente, outro para trás, um olhar, um teste de terreno. Mas quando alguém tem a coragem de se mostrar, com gentileza, sem pressão, abre-se um espaço para que o outro também se sinta seguro para fazer o mesmo.


Que possamos nos abrir. Ser vulneráveis.


Que tenhamos coragem para amar... e amar de novo.

 
 
 

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